Superfícies de madeira inoculam vírus em questão de minutos


Os pesquisadores analisaram por quanto tempo os vírus permaneceram infecciosos em diferentes espécies de madeira e descobriram que algumas são melhores que outras.
[Imagem: Sailee Shroff - 10.1021/acsami.4c02156]


Superfícies antivírus

Durante a pandemia, houve muita polêmica no meio científico e médico se os vírus - especificamente o SARS-CoV-2 naquela ocasião - poderiam ser transmitidos por meio de superfícies, como corrimãos, cadeiras, mesas etc, o que levou ao uso generalizado de álcool em gel e desinfetantes.

Isso gerou pesquisas em busca de superfícies que possam reduzir o risco desse tipo de transmissão, mas que façam isso sem a ajuda de desinfetantes ou outros compostos químicos.

E a solução pode estar mais à mão do que se acreditava, mostraram Sailee Shroff e colegas da Universidade de Jyvaskyla, na Finlândia.

Acontece que a madeira possui propriedades antivirais naturais que podem reduzir o tempo de permanência dos vírus em sua superfície - e algumas espécies de madeira são mais eficazes do que outras na redução da transmissibilidade dos vírus.

Propriedade antiviral da madeira

O ponto de partida é que, nos materiais tipicamente encontrados em ambientes domésticos e industriais, os vírus envelopados, como o coronavírus, podem viver até cinco dias; os vírus sem envelope, incluindo os enterovírus ligados ao resfriado comum, podem sobreviver por semanas, em alguns casos mesmo se as superfícies forem desinfetadas.

Estudos anteriores demonstraram que a madeira possui propriedades antibacterianas e antifúngicas, tornando-a um material ideal para tábuas de corte, por exemplo.No entanto, a capacidade da madeira para inativar vírus ainda não havia sido explorada.

Os pesquisadores então analisaram por quanto tempo os vírus com e sem envelope permanecem infecciosos na superfície de seis tipos de madeira: Pinheiro silvestre, bétula prateada, amieiro cinzento, eucalipto, carvalho pedunculado e abeto norueguês.

Para determinar a atividade viral, eles lavaram a superfície de cada amostra de madeira exposta aos vírus com uma solução líquida em diferentes momentos, e depois colocaram essa solução em uma placa de Petri que continha células cultivadas. Depois de incubar as células com a solução, eles mediram o número (se houvesse) de células infectadas pelos vírus.

A equipe identificou alguns componentes da madeira que contribuem para suas propriedades antivirais.
[Imagem: Sailee Shroff et al. - 10.1021/acsami.4c02156]


Quais madeiras matam melhor os vírus?

Os resultados dos experimentos com um coronavírus envelopado mostraram que o pinheiro, o abeto, a bétula e o amieiro precisam de apenas uma hora para reduzir completamente a capacidade do vírus de infectar as células, enquanto o eucalipto e o carvalho precisam de duas horas. O pinho teve o início mais rápido da atividade antiviral, começando após cinco minutos. O abeto ficou em segundo lugar, mostrando uma queda acentuada na infectividade após 10 minutos.

Para um enterovírus sem envelope, a incubação em superfícies de carvalho e abeto resultou na perda da capacidade de infecção dos vírus em cerca de uma hora, com o carvalho começando em 7,5 minutos e o abeto em 60 minutos. O pinheiro, a bétula e o eucalipto reduziram a infecciosidade do vírus após quatro horas e o amieiro não apresentou efeito antiviral.

Os pesquisadores concluíram que a composição química da superfície da madeira é a principal responsável pela sua funcionalidade antiviral. Embora a determinação dos mecanismos químicos exatos responsáveis pela inativação viral exija estudos mais aprofundados, eles afirmam que estas descobertas apontam para a madeira como um candidato promissor para materiais antivirais naturais e sustentáveis.

Agora é esperar que alguma equipe nacional decida repetir os testes usando madeiras brasileiras.

Bibliografia:
Artigo: Tree Species-Dependent Inactivation of Coronaviruses and Enteroviruses on Solid Wood Surfaces
Autores: Sailee Shroff, Anni Peramaki, Antti Vaisanen, Pertti Pasanen, Krista Gronlund, Ville H. Nissinen, Janne Janis, Antti Haapala, Varpu Marjomaki
Revista: ACS Applied Materials & Interfaces
Vol.: 16, 23, 29621-29633
DOI: 10.1021/acsami.4c02156

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