O caminhão do futuro será movido a diesel de cana

A descoberta pode servir ainda, como incentivo de produção para a própria indústria do etanol que precisaria atender a mais uma demanda de mercado.

Para Georg Weiberg, vice-presidente de engenharia de produtos - caminhões do Grupo Daimler, o caminhão do futuro será movido a diesel. A afirmação foi feita durante a sua visita ao Brasil, onde ele se reuniu com uma comitiva de jornalistas do setor de transporte. Na visão de Weiberg, ainda que a indústria tenha chegado quase no limite, quando o assunto é desenvolvimento de motores menos poluentes, ele acredita que seja possível desenvolver propulsores com consumo de combustível mais amigável e fazer melhorias relativas ao desempenho. Muito do que se pretende alcançar objetiva a melhoria da aerodinâmica e a redução de perdas por atrito ou fricção.

 
 
São Paulo - Uma pesquisa realizada pelo engenheiro mecânico Ricardo Roquetto Moretti, no Mestrado em Engenharia Mecânica da Universidade de Campinas (Unicamp), pode ser a chave para a produção de diesel mais barato e menos poluente no futuro.
 
Com o objetivo de reduzir o custo do combustível utilizado na cadeia da cana-de-açúcar, a pesquisa avaliou a possibilidade de adicionar etanol anidro à mistura de diesel e biodiesel disponibilizada hoje no mercado.
 
Moretti utilizou uma mistura constituída de 2,15% de óleo diesel, 4,85% de biodiesel e 3% de etanol anidro. O estudo avaliou motores de compressão e observou as variáveis consumo, rendimento e torque comparando o diesel comum e a mistura desenvolvida na pesquisa.
 
A economia gerada com o novo combustível ficou estimada em 1,5% a 2,0% do custo. Segundo o engenheiro, a porcentagem é pequena, mas se torna significativa quando há um grande número de veículos envolvidos.
 
"Ao retirar uma parcela do diesel da frota e introduzir etanol, você reduz o custo e ainda utiliza um material que, no caso de uma usina, ela mesma produz. Como o consumo é muito grande, o retorno acaba sendo significativo", explicou à Agência EFE.
 
Durante a pesquisa, o engenheiro avaliou duas usinas de processamento de cana-de-açúcar rodando 500 motores e a economia gerada foi de R$ 0,02 por litro, o que em cinco anos, acarreta uma redução de custo de cerca de R$ 1,8 milhão.
 
A mistura também mostrou-se equivalente ao diesel comum na eficiência e potência no motor. O engenheiro também explica que os testes foram realizados num motor mecânico, segundo ele, num motor eletrônico será possível ajustar a calibração e aumentar ainda mais a proporção da mistura sem perder eficiência.
 
O pesquisador quer continuar os estudos para avaliar o desgaste dos motores na utilização do novo combustível em longo prazo.
 
O engenheiro ressalta também que o diesel misturado ao etanol também se mostra eficiente na redução de poluentes.
 
"Ainda são necessárias mais pesquisas na área, mas é sabido que pelo fato de o etanol ser um combustível limpo a emissão de resíduos tóxicos seria menor. Supondo que a ANP (Agência Nacional de Petróleo) homologue o combustível, ele poderia ser usado em frotas normais de ônibus e caminhões", afirmou.
 
A descoberta pode servir ainda, como incentivo de produção para a própria indústria do etanol que precisaria atender a mais uma demanda de mercado.
 
Ricardo trabalha no departamento de Tecnologia da Raízen Energia S.A., uma joint venture envolvida com produção de etanol e açúcar, distribuição de combustível e cogeração de energia. O grupo tem interesse na possibilidade de juntar ao diesel o próprio etanol anidro que produz para a redução dos custos de produção do setor. 

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