FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Dois estudos finalizados recentemente mostram que caiu a proporção de estudantes que se formam em engenharia no tempo adequado -a área segue com carência de profissionais no país.
Com metodologias diferentes, chegaram à mesma conclusão a Confederação Nacional da Indústria e a Universidade Federal de Juiz de Fora.
Para a primeira entidade, a proporção caiu de 48% em 2009 para 43% dois anos depois, considerando o período de cinco anos como o ideal para o estudante se formar.
Já para a federal de Minas, o recuo foi de 58% para 55%, no mesmo período, considerando seis anos como tempo esperado para a conclusão.
As quedas ocorreram em cursos públicos e privados, mas a intensidade nos pagos foi maior. Os percentuais caem quando aumenta o número de evasão ou de reprovação -ou os dois juntos.
O panorama mostra ser necessário discutir mudança nos currículos, melhorias no acompanhamento de alunos e até se é necessário abrir mais vagas, dizem analistas.
A queda na taxa de conclusão não significa, porém, que haja menos concluintes. O problema é que o aumento no número de formandos não acompanha o de ingressantes.
Conforme a Folha informou em abril, o número de calouros em engenharia cresceu tanto que já passou os de direito, pela primeira vez.
Para o ex-reitor da USP Roberto Lobo, consultor da confederação das indústrias, justamente o crescimento dos ingressantes pode explicar o aumento da evasão e da reprovação em engenharia.
"A tendência é que cheguem mais alunos sem base em matemática e física."
Para o diretor de inovação da confederação, Paulo Mól, pesam ainda os currículos (que não têm matérias práticas nos primeiros anos) e a dificuldade para se pagar os cursos (a maioria dos estudantes está em particulares).
Aluna da PUC de Campinas, Carla Moyses Costa, 28, decidiu trancar o curso de engenharia civil devido à mensalidade (cerca de R$ 1.300). "Eu precisava estudar e trabalhar. Ficava cansada. E chegou uma hora que não deu mais para pagar."
CURRÍCULOS
Diretor da Escola Politécnica da USP, José Roberto Cardoso concorda que os currículos devem ser alterados. Sua escola, inclusive, vai aplicar mudanças já em 2014.
Até então, os dois primeiros anos eram basicamente de matemática e de cálculo, modelo padrão no país.
Agora, serão espalhadas até o 3º ano, para que matérias práticas surjam no início. "A engenharia tem de ser vista como algo bom, não como castigo", disse. Os estudos usaram dados do Ministério da Educação. O da federal de Minas é parceria com a Abenge (associação de pesquisadores em ensino de engenharia).
DEBATE RESTRITO
A queda na eficiência dos cursos de engenharia fez com que analistas discutissem se é necessário aumentar mais as vagas na área.
A tese é que, se o aluno não se formou em tempo adequado, é porque ele reprovou muito ou até abandonou. Se esses problemas forem combatidos, é possível aumentar o número de formados, com as mesmas vagas já em funcionamento. "O debate ficou muito centrado em abertura de cursos. Mas se discutiu pouco o que fazer para que esse aluno se forme", afirmou Paulo Mól, da Confederação Nacional da Indústria.
Em nota, o Ministério da Educação diz ser necessário manter a expansão de vagas, pois o Brasil tem, proporcionalmente, menos engenheiros que Coreia do Sul e Alemanha. Para diminuir a dificuldade no pagamento de mensalidades, o governo aposta no Fies (financiamento estudantil) e no Prouni (bolsas de estudos a alunos carentes). O ministério diz que atua na melhoria do ensino de exatas na educação média para atenuar dificuldades na graduação.
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