Como o VLT pode aliviar o transporte no Brasil

Os veículos leves sobre trilhos, mais conhecidos por VLTs, já ajudaram grandes cidades do mundo a resolver seus problemas de mobilidade – de forma econômica, eficiente e limpa

São Paulo – Dá pra desatar o nó do transporte no Brasil? A solução para atender uma das demandas mais fortes e legítimas dos protestos que se espalham pelo país – o direito a um transporte público eficiente e de qualidade – pode passar longe do entendimento do senso comum, de “colocar mais ônibus e metrô nas ruas”, e se aproximar de algo como “colocar o bonde na rua e entrar nos trilhos”.
Versão moderna dos velhos bondes, os veículos leves sobre trilhos, mais conhecidos por VLTs, são considerados por especialistas uma alternativa mais barata e sustentável que outros meios de transporte coletivo como os ônibus e o metrô. Eles podem transportar até quatro vezes mais pessoas que o primeiro e custar metade do segundo.
“Os VLTs ainda dão uma impressão de melhoria ambiental imediata. A motorização elétrica os torna mais silenciosos e menos poluentes”, destaca o especialista em transporte público da UNB, Paulo Cesar Marques. Comparado aos BRT´s (Bus Rapid Transit), além da vantagem ambiental, os VLTs proporcionam controle mais automatizado (e menos dependente do motorista), o que pode garantir maior conforto.
Por suas vantagens, os VLTs já ajudaram grandes cidades do mundo a resolver seus problemas de mobilidade. A  França é um exemplo de país que adotou os netos dos bondes como instrumento de gestão urbana. Atualmente, dezoito cidades francesas têm pelo menos uma linha de VLT e até 2014 outras nove implantarão suas primeiras linhas.
A expansão de projetos de VLT também conduziu à revitalização urbana em torno das linhas. Um estudo do Ministério de Meio Ambiente da França indica que em 2009, 30% dos subsídios que o governo concedeu às comunidades para seus projetos de VLT foram dedicados à melhorias nas áreas atravessadas.
Com todos esses benefícios, você deve estar se perguntando por que o Brasil ainda não adotou em massa essa tecnologia. De acordo com o especialista da UNB, é tudo uma questão de oportunidade. “As cidades europeias que são exemplo de sucesso no uso de VLT nunca deixaram de ter bonde. É natural que houvesse uma evolução para algo mais moderno”, explica Paulo Cesar.

“Quando essa tecnologia ganha maior confiabilidade e boa imagem por suas vantagens ambientais, surgem condições pra que outras cidades possam adotá-la”, acrescenta. Aos poucos, o VLT desponta como solução para o transporte no país.
A Copa de 2014 deu o impulso que faltava, com várias cidades incluindo projetos de VLT em seus planos de mobilidade. Em Cuiabá, aproximadamente 80% dos ônibus deixarão de trafegar por três das principais vias da cidade após a implantação do VLT, que deve ser entregue até meados de 2014.
Com 22,2 quilômetros de trajeto, o  VLT mato-grossense terá capacidade máxima de passageiros de 400 pessoas por veículo e o tempo de espera para o embarque será de até quatro minutos.
Parado desde abril de 2011, o projeto do veículo leve sobre trilhos de Brasília foi retomado em abril deste ano e prevê a construção de 22,6 km de linhas.
Já em São Paulo, o primeiro trecho do VLT, que vai ligar Santos e São Vicente, deve ficar pronto até meados do ano que vem. O projeto ocupa a antiga linha férrea das cidades do litoral e, quando estiver concluído, deverá transportar 70 mil passageiros.
Em investida mais recente, a prefeitura do Rio de Janeiro e o Governo federal assinaram na semana passada termo de compromisso para repasse de RS 532 milhões em recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade para a implantação do VLT na cidade.
Orçado em R$ 1,164 bilhão, o projeto carioca vai conectar a Região Portuária ao Centro da cidade e ao aeroporto Santos Dumont. Quando todas as suas seis linhas, distribuídas por 28 vias, estiverem operantes, a capacidade do sistema chegará a 285 mil passageiros por dia.

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