Mercadante diz que bolsistas 'migrados' vão abrir espaço para ciências humanas


O ministro Aloizio Mercadante (Educação) disse nesta quarta-feira que os bolsistas no exterior que estão sendo migrados para o programa Ciência Sem Fronteiras abrirão espaço orçamentário para alunos de ciências humanas, que não são contemplados pelo programa.

Ele negou que haja maquiagem de dados e que os estudantes migrados "sempre estiveram" no programa. Ele não explicou, contudo, como se dava esse processo.

Folha revelou ontem que o governo vinha fazendo essa manobra há pelo menos um mês e meio -o MEC depois confirmou que a prática vinha desde 2011. O programa é a menina dos olhos de Dilma Rousseff, e prevê 101 mil bolsas até 2015.

Na sexta-feira passada, a Capes informou aos bolsistas de seus programas regulares que eles seriam migrados se fossem "elegíveis", ou seja, dentro de certos critérios.

Editoria de Arte/Folhapress
Segundo Mercadante, as condições do Ciência Sem Fronteiras são "muito melhores", por concederem benefícios como subsídio para a compra de computadores e para cursos de idiomas.

Questionado sobre por que somente na semana passada eles haviam sido informados da migração, disse que somente os alunos de pós-doutorado foram comunicados por e-mail sobre o procedimento.

"Era uma resposta a ações judiciais de alunos de pós-doutorado, que também queriam direito à verba para laptop e curso de inglês", disse Mercadante.

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Ocorre que, como a Folha mostrou, foram alunos de doutorado que receberam o comunicado. Questionado novamente, Mercadante só negou o fato e passou a criticar o que chama de "certo problema de pessimismo no país" sobre o programa.

"O problema do Ciência sem Fronteiras não é atingir as metas programadas. O nosso problema é orçamento para cumprir as metas e qualidade para preencher as metas. Nós cumpriremos todas as metas", disse Mercadante.

Mercadante disse ainda que "não há possibilidade de dupla contagem" nos programas. "Nós temos os CPFs e GPSs de onde eles estão, um por um", disse.

Estudantes relataram à Folha nunca terem fornecido dados para serem publicados pelo governo no site do programa. A reportagem cruzou nomes de aprovados nos editais de doutorado regular da Capes no exterior com a lista de alunos do Ciência sem Fronteiras.
Sobre o relato feito à Folha por alunos de que a Capes respondeu por e-mail a alunos que a migração era uma questão de "dar estatística" ao governo, o ministro negou ter informado isso.

Ele anunciou também, em novo balanço de bolsistas no programa, novas 17.282 bolsas de estudos no exterior -cerca de 15 mil delas para graduação sanduíche. Anunciou que o programa chegou a 41.133 bolsas concedidas desde sua criação, em 2011.

Afirmou também que o governo limitará neste semestre a ida de estudantes de graduação a Portugal. Segundo ele, entre as ambições está fazer com que os bolsistas aprimorem línguas estrangeiras, sobretudo o inglês.

A medida é uma resposta ao alto fluxo de bolsistas para aquele país, por afinidade linguística e falta de conhecimento de outras línguas.

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