Especialista IPOG traça cenário sobre a engenharia elétrica no país


Diante da possibilidade de racionamento de energia elétrica no País, em 2013, o doutor em Engenharia de Produção, pela Unimep, mestre em Administração, pela Oklahoma City University, e engenheiro eletricista, pela UFG, Eliseu Vieira Machado, alerta que o problema está diretamente ao escasso investimento em infraestrutura. Para o especialista, a economia brasileira que, desde o início do governo Dilma, já vem dando mostras de que não anda muito bem pode ser ainda mais prejudicada.

Confira a entrevista do professor Eliseu à comunicação do IPOG.

Comunicação IPOG – Professor, os gargalos da infraestrutura brasileira, a exemplo da falta de investimento no setor energético, podem frear ainda mais a economia brasileira?

Prof. Eliseu – Um dos desafios do Brasil, para as próximas décadas, chama-se infraestrutura. Em menos de uma década, o país criou 14 milhões de empregos. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), “a infraestrutura é ainda um dos principais desafios para o Brasil”. Apesar de investir 2,5% do PIB no setor, isso não é suficiente, segundo o BID.

Há décadas, todos os programas de investimento em infraestrutura repetem os mesmos projetos do programa anterior. Muitos deles têm sido interrompidos por contingenciamentos orçamentários, problemas de licenciamento, escassez de escritórios de engenharia e planejamento.

A presidenta Dilma Rousseff completou metade de seu mandato com 78% de popularidade, mas começa 2013 com o desafio de conter a desaceleração da economia, colocar em prática o pacote de melhorias na infraestrutura e logística, além de ampliar o alcance dos programas sociais para tirar cerca de 6 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

Na área de infraestrutura, no segundo semestre de 2012, Dilma lançou um pacote de concessões para o setor de logística – com investimentos de R$ 133 bilhões em 15,7 mil quilômetros de rodovias e ferrovias,  para o setor elétrico – que vão resultar na redução de tarifas de energia para os consumidores. Também foram divulgadas medidas para a modernização de portos e aeroportos.

Além disso, o secretário-executivo do ministério brasileiro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Alessandro Teixeira, afirmou que, durante mais de duas décadas, o Brasil vive um ''apagão'' no setor de infraestrutura, tendo sido obrigado a reconstruir estradas, aeroportos e portos.

Portanto, entendo que o desenvolvimento econômico do país depende sim de um vasto investimento em infraestrutura.

Comunicação IPOG – Além desse problema, começamos 2013 com especulações sobre um possível apagão. Mesmo que o governo tenha negado a possibilidade, ainda corremos riscos de ter uma crise energética nos próximos anos?

Prof. Eliseu – Em 2001, o apagão foi causado pelo esvaziamento dos reservatórios de água das usinas geradoras de energia elétrica, as hidrelétricas. Também, à época, verificou-se um parque desatualizado dos equipamentos de distribuição de energia.

Ainda estamos no início de janeiro, mas vários empresários e analistas do mercado já trabalham com um cenário parecido com o de 2001, com economia em retração e aumento do desemprego e inadimplência.

Entre agentes do setor, pairam incertezas num cenário de reservatórios das hidrelétricas baixos, chuvas insuficientes para recompor os estoques e sistema de termelétricas - usado em momentos de estiagem - praticamente todo acionado. "A chance de não ter racionamento é pequena, a situação está ultracrítica", disse um executivo do mercado livre do setor elétrico que já considera essa possibilidade em suas projeções para o ano.

Dados do ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico - exibem uma característica preocupante: 2013 começa numa situação pior do que a de 2001, na maioria dos reservatórios.

Neste sentido, o mercado de energia elétrica já começa a se preocupar com a possibilidade de o Brasil passar por um racionamento de energia, em 2013, segundo fontes da Agência Reuters. 

Ainda há dúvidas quanto a quais medidas o governo federal pode vir a tomar para equacionar um eventual descompasso entre a oferta e o consumo de energia. Tampouco, há cálculos sobre qual seria a dimensão de uma potencial necessidade de redução do consumo de eletricidade.

Comunicação IPOG – Na sua opinião, qual é a alternativa do governo para contornar uma possível crise no setor energético?

Prof. Eliseu – No meu ponto de vista, existem algumas alternativas que deveriam ser consideradas para minimizar a provável crise no setor de energia:

Investimento em projetos de energia renovável, também chamada de energia limpa ou energia ‘verde’. Energias Renováveis serão destaque na matriz energética do futuro. Exemplos deste tipo de energia são: Eólica, Solar, de biomassa e, naturalmente, hidráulica. Todas essas fontes de energia são fundamentais para o fornecimento de energia limpa.

Neste item, pode-se pensar em investimento no parque eólico disponível no território brasileiro, utilizando turbinas eólicas altamente eficientes, robustas e confiáveis. 

Também, a utilização de energia solar, criando uma fonte limpa, sustentável e econômica. Nesta modalidade, existem diversas possibilidades dentre elas a utilização de usinas fotovoltaicas (PV) de larga escala e produtos e soluções personalizados para uso em usinas de energia solar térmica (CSP), incluindo campos solares, blocos de energia e componentes essenciais para estas usinas.

A biomassa também aparece como uma importante alternativa. Esta fonte é produzida através de toda matéria orgânica não fóssil, de origem animal ou vegetal, que pode ser utilizada na produção de calor, seja para uso térmico industrial, seja para geração de eletricidade e/ou que pode ser transformada em outras formas de energias sólidas (carvão vegetal, briquetes), líquidas (etanol, biodiesel) e gasosas (biogás de lixo). 

Na modalidade hidráulica, existem alternativas, como as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que já demonstraram ser excelente fonte de energia limpa com baixo custo. Por outro lado, o caráter descentralizado da geração hidrelétrica assegura independência de combustíveis fósseis, de alto custo e com significativas emissões de CO2, além de gerar receitas adicionais devido aos créditos de carbono assegurados;

Deslocamento da Demanda – É definido como horário de ponta (entre 18h e 21h), aquele em que a demanda alcança o seu pico. Portanto, uma das alternativas é fazer a gestão do sistema elétrico como um todo de modo a conseguir o deslocamento de unidades de consumo para outros horários. Esta estratégia minimizaria o impacto da demanda no horário de ponta. Uma das soluções é a gestão utilizando tarifas e incentivos fornecidos pelas modalidades de tarifação diferenciada, como é o caso das tarifas azul e verde;

Formação e Capacitação de Recursos Humanos – Segundo informações do Censo 2011, publicadas em outubro/2012, houve um aumento de 12% nas matrículas dos cursos de engenharia no Brasil, onde apenas 6,6% dos estudantes que estão no nível médio cursam o ensino profissionalizante. Na Alemanha tem-se 53%, no Japão, 55% e na Coréia este índice alcança 42%. 

O Brasil possui um déficit de aproximadamente 30 mil engenheiros. A quantidade de engenheiros de um país tem um papel importante nos processos de inovação. Na média, o Brasil tem seis engenheiros para cada 100 pessoas. Nos países europeus e asiáticos, a média é de 25. Também, verifica-se um aumento significativo de engenheiros estrangeiros trabalhando no Brasil. 

Todos estes indicadores mostram uma necessidade de investimento em formação de engenheiros. Neste item, é importante a formação técnica, mas também a formação em nível de gestão. Muitos gargalos passam, primeiramente, por um processo de diagnóstico, planejamento e gestão. 

Portanto, a capacitação de engenheiros no quesito gestão também mostra-se de fundamental importância.

Comunicação IPOG – Diante de um setor que precisa de investimentos e de uma atenção melhor à formação profissional, qual é o cenário atual para o engenheiro eletricista no Brasil?

Prof. Eliseu - A demanda atual, no Brasil, é de aproximadamente 70 mil engenheiros por ano, enquanto que as instituições de ensino superior no país formam, em média, 40 mil profissionais por ano. Neste contexto, ainda se soma o fato das demandas específicas de cada habilitação e das exigências de se ter uma pós-graduação na área.

Também, a revista “O Setor Elétrico”, especializada na área de Engenharia Elétrica, em recente publicação, pesquisou empresas em todo o Brasil no ramo de Engenharia Elétrica. Num total de 213 empresas de engenharia e consultoria que participaram do levantamento xxxxx esperam crescimento médio de 16% para o ano de 2012 e 88% delas disseram trabalhar com baixa e média tensão.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA – o número de engenheiros será 3,6 vezes maior em 2020. Isto significa também uma demanda ainda maior por cursos de especialização. Também o IPEA indica que a remuneração inicial média triplicou no último ano, subindo de R$ 1.500 para R$ 4.500. Nenhuma outra carreira registrou nada semelhante.

Para cada milhão de dólares investido em grandes projetos (por exemplo, no PAC, Pré-Sal, Copa do Mundo, Olimpíadas, etc.), o mercado demanda um novo engenheiro. Portanto, para sustentar um crescimento do PIB da ordem de 5% ao ano, seria necessário aumentar em 21% a formação anual destes profissionais e, em 41%, caso este crescimento atingisse 7%.

Em 2009, o Ministério da Educação (MEC) sinalizou investimentos para a criação de novos cursos de engenharia, visando dobrar a oferta de vagas e suprir a demanda por mais engenheiros no prazo de seis a oito anos.

Com este cenário - e a partir destes importantes indicadores -, entendo que o mercado é muito promissor e profissionais da área de Engenharia Elétrica, por exemplo, serão requisitados com uma frequência significativa.

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