Previsões do ONS estão otimistas demais, analisa mercado


Agentes divergem sobre se há razões para que previsões de precipitação estarem muito acima das observadas
Por Natália Bezutti


Agentes do mercado livre de energia elétrica têm se mostrado extremamente preocupados com os níveis de desvios apresentados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) quanto às previsões de chuvas semanais. O temor é de que o operador esteja fazendo previsões otimistas demais. A diferença entre as expectativas e o realizado, que antes variava entre 10% e 15%, margem considerada normal pelo mercado, agora fica acima dos 40%. Para especialistas, os desvios "ocultam" um aumento do PLD, que hoje está em R$184,80 por MWh, mas poderia alcançar mais de R$400 por MWh caso fossem considerados números "mais realistas".
Isso porque, o modelo de previsões de chuvas/vazões influencia diretamente na formação de preço da energia do mercado. Para as previsões dessa semana, por exemplo, considerando o período de 15 a 21 de dezembro, a expectativa do Operador para a região Sudeste é de uma precipitação da ordem de 47.6GW, representando um volume diário da cerca de 6GW. Segundo apuração feita pelo Jornal da Energia com entidades do setor, o volume diário apresentado de sábado até a manhã da última segunda-feira (17/12) flutuou em uma média diária de 2GW.
“Se fosse chover tudo isso que eles estão prevendo, então seria melhor construir a arca de Noé”, declarou uma fonte do setor. As previsões mais otimistas realizadas por empresas e consultorias do setor para período são em torno de 30GW, podendo resultar em uma variação de quase 59% entre o realizado e previsto. Para o interlocutor, a grande variação deixa margem para dúvidas sobre possíveis intenções por trás das publicações, e dá a falsa impressão de um menor despacho térmico.
“Começamos com os mini apagões, o governo dizendo que as tarifas vão cair, contratando ator global para fazer propaganda, estimulando o consumo e artificialmente jogando o preço para baixo com previsões sucessivamente otimistas sobre a chegada das chuvas na semana do leilão A-5. É muito provável que alguma coisa esteja acontecendo. Cogitamos isso porque é um desvio muito grande”, afirmou a fonte.
O diretor da Safira Energia, Mikio Kawai, revela que a disparidade observada está preocupando quanto à formação de preço, e uma vez que a previsão da semana posterior está muito além do realizado na anterior, que não foi superada. “As previsões que têm ocorrido não têm se realizado e, sistematicamente, a previsão da semana posterior está sendo muito além do observado na semana anterior, que também não foi batida”.
Mas independente do otimismo nas publicações, um executivo com larga experiência no setor e próximo ao assunto comentou que o que deve ser analisado é o modelo e não os envolvidos na operação. “Você nota que tem uma grande variação, mas isso não é tirado da cabeça de ninguém. O que dá pra questionar é se esse modelo está refletindo as condições que estão sendo verificadas, mas para isso precisa comparar com o que tem acontecido”, explicou.
Sobre o assunto, o presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel), Reginaldo Medeiros, declara que suas associadas estão preocupadas com o impacto na formação do preço. “Vamos ver se nesta semana teremos uma posição para divulgar sobre isso”, comentou Medeiros. A entidade está analisando com cuidado o motivo dessas grandes diferenças, e uma posição ainda dependerá de simulação sobre o que tem acontecido.
Na linha de repensar o modelo adotado pelo Operador para as previsões, a Bolt Energias acompanha o movimento de preocupação do setor pelos desvios estarem ocorrendo há pelo menos dois meses. A previsão do PLD para a terceira semana de dezembro da comercializadora chegou à faixa de R$320 o MWh.
“Está sempre muito acima, e por isso teria que ser tomada alguma atitude. Mas não penso nessa linha de teoria da conspiração. Não adianta manipular para fazer as previsões otimistas, porque uma hora isso vai estourar”, comentou Érico Evaristo, responsável pela comercializadora da Bolt Energias.
Para ele, o aumento na margem de erro no chamado período de transição, em torno da segunda quinzena de outubro, em que era esperado o aumento das chuvas, e que acabou atrasando para novembro, é normal. O grande problema foram os sucessivos erros para o mês de dezembro.
Até o fechamento dessa reportagem, o ONS não pode se pronunciar.

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