Censo 2010: formação em Engenharia caiu 20% em dez anos

RIO — O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quarta-feira (19) os resultados do Censo Demográfico 2010 para os temas trabalho, rendimento, educação e deslocamento. A pesquisa mostra que, seguindo a tendência do levantamento de 2000, a maioria (37,8%) das pessoas que concluíram o nível superior de graduação, mestrado ou doutorado se formaram na área geral de Ciências sociais, negócios e direito. Os dados revelam ainda um aumento de 74,1% na participação na área de Educação e uma queda de 20% em Engenharia, produção e construção em relação ao último recenseamento.


Segundo os novos números do IBGE, a formação em Engenharia abrange 7,6% das pessoas com nível superior concluído, na frente apenas dos ramos de Serviços (2%) e Agricultura e veterinária (1,9%). No Censo de 2000, a participação na área era de 9,6%. Os dados confirmam um cenário que o mercado de trabalho já vinha demonstrando: faltam engenheiros no país.
Para Luís Testa, diretor de marketing da Catho - empresa de vagas online - o resultado reflete, sobretudo, a falta de incentivo do governo na criação de mão-de-obra nacional qualificada na área. Segundo ele, muitas vezes as vagas acabam preenchidas por trabalhadores de outros países.
— O que aconteceu foi que a demanda desses profissionais cresceu muito, mas a formação na área não acompanhou. A engenharia é um campo em que é preciso antever a necessidade de pessoal, porque o ciclo de desenvolvimento e capacitação é longo, de no mínimo cinco anos. Não adianta chegar de uma hora para outra e dizer que está precisando de engenheiro para ontem. Se hoje existem muitos investimentos na área, já houve o tempo em que esse era um mercado limitado. Era preciso ter pensado um plano de estímulo antes — afirma.
A vice-diretora da Faculdade de Educação da Uerj, a professora Rosana de Oliveira, acredita que o déficit de engenheiros é formado ainda na educação básica.
— A matemática ainda é temida pela maioria dos nossos estudantes, e a impressão que se passa é que os cursos da área de engenharia são muito difíceis. Consequentemente, menos pessoas acabam buscando essa formação no nível superior. É uma coisa também de tradição — diz Rosana.
A área geral das Ciências sociais, negócios e direito - que engloba as áreas específicas de Ciências Sociais e comportamentais; Jornalismo e informação; Comércio e administração; e Direito - continua com a maior concentração total das pessoas que concluíram o nível superior e em cada um dos três níveis separadamente: graduação (38,4%), mestrado (31,3%), e doutorado (25%).
— Essas graduações são as mais ofertadas pelas instituições de ensino superior. Quase todas as faculdades têm cursos de Direito e Administração. A oferta de empregos na área também é boa. Tudo isso é atraente para os estudantes — explica Luís Testa.
Com a segunda maior concentração, a área geral de Educação foi a que mais cresceu em relação ao Censo de 2000. No levantamento daquele ano, o ramo tinha a participação de 11,2% das pessoas com nível superior. Na pesquisa de 2010, o número foi para 19,5% - um aumento de 74,1%.
A professora Rosana de Oliveira vê a ascensão ligada a políticas públicas de investimentos na área, impulsionadas pela campanha "Educação para todos", de 2000.
— De lá pra cá, aconteceram diversos projetos que incentivaram trabalhos nessa área, como implantação de educação integral em escolas públicas, a ampliação do atendimento da educação infantil, estímulo do ensino técnico e a distância. Fora isso, a educação ganhou nuances variadas, dentro e fora da escola. É comum hoje em dia ver estudantes da área fazendo estágio em empresas, dando consultorias. E a questão salarial também avançou um pouco. O mercado está melhor, mas vejo a Educação vivendo ciclos. Acredito que o próximo levantamento já não mostre um cenário tão positivo assim — diz.
A professora Patricia Bahiense se formou em pedagogia, em 2006, depois de ter completado uma graduação em moda. Este ano, ela trabalhou em projetos pedagógicos próprios ligados à leitura e, em 2013 vai dar aulas de arte no Miguel Couto Bangu.
— Meu pai e meu irmão já eram da área, mas eu nunca me vi dando aula. Só que o mercado de trabalho da moda é mais restrito, tive muita dificuldade. Com o apoio da família resolvi fazer pedagogia com a intenção de somar a didática ao conteúdo que já tinha. Acabei unindo minha paixão por arte com o ensino. Além da sala de aula, escrevo livros para apresentar nas escolas, acompanhada de bonecos de fantoche — conta.
Liderado em todos os segmentos pelas Ciências Sociais, a distribuição pelas áreas de formação também varia de acordo com o grau do nível superior. Para pessoas cujo curso mais elevado foi o de graduação, o segundo maior contingente foi o da área de Educação (20,2%). Em se tratando de mestres e doutores, a área de Saúde e Bem estar aparece na segunda posição, com 14% e 20,6% respectivamente.

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