Empreendedorismo se ensina na escola


A redemocratização política e a consequente abertura da economia brasileira ao mercado estrangeiro já completaram mais de 20 anos. O Produto Interno Bruto cresceu exponencialmente neste período e milhares de pessoas ascenderam socialmente. Mas, embora as instituições brasileiras tenham conquistado crescimento e solidez - sejam elas políticas, econômicas ou educacionais - pouco se fez para destravar as rédeas burocráticas e culturais que impedem o surgimento de novos negócios no País. Prova disso é a alarmante 121ª colocação ocupada pelo Brasil em classificação global no ambiente empresarial realizada pelo Banco Mundial em 2012. De acordo com a lista, é mais fácil empreender num país como Serra Leoa (África), que ocupa a 76ª posição na classificação e cujas famílias lutam para garantir o alimento de cada dia, do que no Brasil, a 6ª maior economia do mundo.
O ambiente institucional brasileiro é, com certeza, um empecilho para a criação de novos negócios em todas as esferas: municipal, estadual e federal. O empreendedor se depara com a exigência de um número excessivo de documentos, vultosos pagamentos de impostos, dificuldade na obtenção de licenças. E, como se não bastasse, o Brasil ainda deixa de criar novas potências empresariais por outra razão: falta de preparo e, podemos até dizer, carência de perspectivas da mão de obra nacional. Alguns argumentariam que o problema gira em torno dos baixos investimentos públicos em educação. Não é o caso. A União destina o equivalente a 5,8% do PIB à educação - padrão perto do adequado, segundo a UNESCO - , com meta de, nos próximos cinco anos, elevar o gasto a 7%. A questão, portanto, está na má administração dos recursos. E a educação pública elementar é um reflexo disso: no ensino básico - que compreende ensino infantil, fundamental e médio -, o investimento por aluno é de apenas R$ 3.580, enquanto que, no ensino superior, a cifra sobe para R$ 17.972, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
Com o objetivo de identificar e desenvolver empreendedores em todas as esferas socioeconômicas, a JBS criou a escola Germinare. Trata-se de uma escola gratuita subsidiada por recursos privados, que visa a estimular e aguçar o espírito empreendedor entre alunos do ensino fundamental e médio. A expectativa é mudar um cenário registrado por uma pesquisa realizada pela Endeavor, em que o brasileiro aparece como o típico 'baixo sonhador'. Entre os Brics, o Brasil é, de acordo com o levantamento, o país que tem a segunda pior expectativa em relação aos seus próprios negócios.
Por isso, a Germinare, que em 2013 completa quatro anos, mostra como tem cumprido um papel importante, ainda que incipiente, na mudança desta cultura. Localizada na Zona Oeste de São Paulo, famílias de todas as classes têm acesso ao ensino da Germinare. Isso por meio de um rígido processo de admissão, coordenado pela consultoria Primeira Escolha - a mesma que prepara a seleção de alunos para o Insper -, composta por entrevista pessoal com uma equipe multidisciplinar, dinâmicas em grupo, testes de conhecimento acadêmico e análise do potencial cognitivo do ingressante.
A proposta pedagógica da escola é sua principal ferramenta na difusão dos conceitos do empreendedorismo. Ao mesmo tempo em que contempla o currículo tradicional exigido pelo Ministério da Educação, a Germinare incorpora em sua grade de disciplinas, da menor à maior série, matérias como introdução ao mundo dos negócios, educação para o consumo e matemática financeira. O intuito básico é colocar os alunos diante dos desafios reais da vida profissional, em projetos que instigam o espírito de liderança. O período de aula é integral, 10 horas diárias, e, além de ser utilizado para o debate de assuntos relacionados ao empreendedorismo na sala de aula, propicia o contato entre estudantes e empresas, a partir de visitas a unidades de produção.
Não à toa, a dificuldade do Brasil em empreender está ligada não só a um ambiente institucional e regulatório ainda pouco desenvolvido e à formação técnica ainda deficiente da sua força de trabalho, mas, sobretudo, à falta de confiança das pessoas em suas próprias ideias. A grande questão é que não podemos tratar essa série de entraves de formas distintas. Todos têm um mínimo múltiplo comum: a educação básica. É nesse setor que os valores do empreendedorismo e liderança devem ser transmitidos e reforçados desde cedo. Isso já acontece na Germinare e pode ser replicado em outras tantas instituições de ensino. Afinal, uma economia do porte da brasileira já não aceita mais remendos e curativos. A hora das grandes reformas chegou. Não podemos desperdiçá-la.

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