Popularizar concreto “usinado” traz ecoeficiência


publicado por Cimento Itambé19 de setembro / 2012 Gestão, Mercado da Construção, Sobre Cimento, Sobre Concreto, Área TécnicaPopularizar concreto “usinado” traz ecoeficiência
Produto poderia estar presente nas autoconstruções, mas burocracia e questões tributárias dificultam seu uso nas obras de menor porte

Por: Altair Santos

O que é ser ecoeficiente? Independentemente do setor, incluindo aí a construção civil, significa produzir mais com menos, sem, no entanto, afetar o desempenho do produto. Segundo o professor da Poli-USP, Rafael Pileggi, que palestrou no Concrete Show 2012, não são necessárias soluções mirabolantes para se atingir a ecoeficiência no que se refere às obras brasileiras. De acordo com o especialista, diminuir o desperdício nas autoconstruções seria um passo importante. Mas para isso deveria haver estímulo governamental. “No caso do concreto, por exemplo, 60% do que é produzido por meio de autoconstrução gera desperdício”, afirma.

Concreto usinado: mais resistente e capaz de prolongar a vida útil da construção.

Por isso, Rafael Pileggi avalia que deveria ser estimulado o uso de concreto dosado em centrais – também conhecido como concreto usinado – nas obras de menor porte. “Hoje, o que ocorre na maioria das construções brasileiras? Chega o cimento no canteiro e se o construtor, ou o pedreiro, não souber dosar o concreto, misturando cimento, areia, brita e água na quantidade certa, ele vai fabricar um concreto com pouca eficiência e com desperdício de materiais. Então, o que se discute hoje é como levar o produto final à obra, já que há uma tendência de que esse seja o modelo de negócio a médio e longo prazo. Mas para isso é preciso superar barreiras  tecnológicas, burocráticas e tributárias”, diz.

Pileggi, em sua palestra no Concrete Show 2012, mostrou que o concreto bem dosado, misturado em caminhão betoneira, aumenta a ecoeficiência (mais resistência com menos uso de material) em 15%, em média.  “Outra medida simples, e que gera eficiência, é guardar os agregados à seco. Muitas vezes, a gente chega para o dono da concreteira e pergunta: por que você deixa os seus agregados tomarem chuva? Ele responde que se construir uma área coberta paga mais IPTU. São essas barreiras que a sociedade precisa resolver para repensar paradigmas que a tecnologia disponível já permite que sejam repensados”, avalia o professor da Poli-USP.

De acordo com o especialista, ou se pensa em soluções práticas ou se busca medidas mirabolantes.  “Há linhas de pensamento que defendem, por exemplo, que se faça clínquer com menos calcário. Só que daí, quando se faz o cálculo, percebe-se que os novos ligantes não atenderiam sequer o mercado de São Paulo. Há ainda quem defenda a produção de cimento sem forno, usando a eletroquímica. Mas verifica-se que se consegue produzir apenas um quilo e meio por mês. Então, o que precisamos entender é que vivemos em uma sociedade baseada em concreto e que a ecoeficiência é uma necessidade. Mas ela tem de ser conseguida com a tecnologia que já existe. A partir delas  vamos eliminar as gorduras e aumentar a eficiência da cadeia”, concluiu.

Entrevistado

Rafael Pileggi, professor da Poli-USP, especialista em materiais cimentícios ecoeficientes
Currículo
- Rafael Giuliano Pileggi é graduado em engenharia de materiais pela Universidade Federal de São Carlos (1992)

- Tem mestrado em ciência e engenharia dos materiais pela Universidade Federal de São Carlos (1996) e doutorado em ciência e engenharia dos materiais pela Universidade Federal de São Carlos (2001)

- Atualmente é professor de graduação/pós-graduação e pesquisador do departamento de engenharia de construção civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, sendo responsável pela implementação do laboratório de reologia de suspensões reativas aplicadas à construção civil

- Atua ainda como coordenador de pesquisas junto ao Consórcio Setorial para Inovação da Tecnologia em Revestimentos de Argamassas (CONSITRA), participa do projeto multi-institucional de desenvolvimento de componentes de fibrocimento sem amianto, além de supervisionar pesquisas junto ao Laboratório de Microestrutura

Contato: rafael.pileggi@poli.usp.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

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