País explora só 5% das áreas com chance de petróleo


Brasil pesquisou só 7% das bacias, mesmo após pré-sal. Especialistas cobram mais investimentos


Explorar é preciso. Passados quase 60 anos do início das atividades exploratórias de petróleo e gás natural no Brasil, pouco se conhece dessas riquezas existentes em seu subsolo. Só 7% dos 7,5 milhões de quilômetros quadrados de bacias sedimentares brasileiras já foram pesquisados e, desse total, apenas cerca de 5% estão sendo explorados.
Nessa pequena área estão os 149 mil quilômetros quadrados de pré-sal na Bacia de Santos, onde só 30%, ou 45,6 mil quilômetros quadrados, estão sendo explorados pelo regime de concessão. Baseada em dados atuais, a Petrobras estima que nos blocos do pré-sal, considerando apenas as descobertas já feitas, existam reservas de, no mínimo, 15 bilhões de barris. Isto significa dobrar as reservas brasileiras descobertas nas últimas seis décadas de atividades. Mas estudos da Coppe/UFRJ sugerem que o número possa chegar a 55 bilhões de barris, o que colocaria o Brasil em nova posição no mapa mundial do petróleo. O peso maior do país no ranking global é o tema de um dos principais painéis da Rio Oil & Gas, o maior evento do setor na América Latina, que começa hoje no Riocentro.
Especialistas acreditam que, passados 14 anos da abertura do setor de petróleo no Brasil, com o fim do monopólio exercido pela Petrobras, houve um pequeno avanço na pesquisa sobre as bacias pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Tal estudo é essencial tanto para nortear o interesse das empresas nos leilões, como na exploração dos blocos concedidos. Esse avanço, mesmo pequeno, já permitiu que o setor petrolífero aumentasse seu peso na formação do Produto Interno Bruto (PIB) do país: de 3%, em 1997, para 12%, hoje.
País continua atraente
Mas, para explorar o potencial das novas reservas do pré-sal, é preciso um esforço político do governo para retomar os leilões, alerta Hernani Aquini, professor da faculdade de Geologia da Uerj e especialista do setor de petróleo e gás. Ele diz que a necessidade de se criar novas oportunidades de exploração para as empresas aumentou este ano, já que a produção de petróleo no país amarga uma queda de 8%:
— Hoje, o Brasil tem as melhores perspectivas, mas é preciso avanço nas rodadas. Desde 2008 não são licitados novos blocos. As últimas descobertas relevantes no mundo foram no Brasil, mas hoje o pós-sal já tem recuo na produção, e boa parte dessa área precisa de licitação. É uma questão em aberto, pois depende da aprovação da divisão dos royalties pelo Congresso.
Para especialistas, até 2050, preveem-se no país até 15 campos, como o de Lula, na Bacia de Santos, o principal do pré-sal brasileiro hoje.
— Temos que ter garantias de que a promessa vai se realizar e acabar com as incertezas — afirma Aquini.
É preciso explorar as reservas
As petrolíferas privadas nacionais e estrangeiras são unânimes em dizer que, com nova oferta de áreas para exploração, os investimentos poderiam ser bem maiores dos que os atuais. João Carlos França de Luca, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP, que reúne as pequenas, médias e grandes empresas nacionais e estrangeiras do setor), diz que o Brasil continua atraente para os investidores, não apenas com as grandes perspectivas que se vislumbram com o pré-sal, mas também no pós-sal.
— O pré-sal é um atrativo para todo mundo. Mas, fora o pré-sal, os estudos feitos na nossa margem equatorial, com as oportunidades de descobertas que estão acontecendo no Oeste da África, fazem com que as companhias se interessem em vir para o Brasil — diz ele.
Mas ainda é preciso muito estudo para elevar os investimentos no país. Só agora a ANP faz o primeiro estudo sedimentar da Bacia do Acre, e realiza o segundo levantamento das bacias do Parecis e do Parnaíba, áreas ricas em rochas não convencionais. David Zylbersztajn, ex-diretor da agência reguladora, diz que, se o Brasil não explorar as riquezas do seu subsolo agora, corre o risco de não deixar nenhum futuro para as novas gerações:
— A idade da pedra lascada acabou, não porque a pedra acabou, e sim porque não se precisou mais dela. A era do petróleo pode acabar em pouco tempo com o desenvolvimento de novas fontes mais baratas e renováveis. E o país terá perdido a grande oportunidade de gerar riqueza.
Para Zylbersztajn, o mundo elegeu o petróleo como o grande vilão da natureza, então é preciso explorá-lo com tecnologias modernas, com maior segurança e menos custos.
— Não podemos ficar sentados em cima das reservas sem explorá-las.

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