O desafio da eficiência energética na prática


José Fernando Mendes é gerente de marketing e produtos da área de LEDs e do programa de eficiência energética da Philips Lighting na América Latina

A eficiência energética tem sido tema de diversos encontros e chama a atenção de empresários, autoridades e profissionais da área. Apesar de não ser um tema novo, é de grande interesse público porque envolve e impacta todos os setores da sociedade, entre eles, Governo, empresas e comunidade.

O grande desafio está em acelerar o processo de implementação de ações efetivas. É preciso salientar que a eficiência energética está muito mais acessível do que imaginamos e a prática impactará positivamente toda a sociedade e o meio ambiente.

Na abertura do 7º Congresso Brasileiro de Energia Eficiente, José Starosta, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), ressaltou que a discussão representa uma excelente oportunidade para debater a sobrevivência, “já que o planeta não tem mais condições de suprir o que precisamos”.

No mesmo encontro, o executivo Alexandre Mancuso, da United States Agency – International Development (Usaid), apresentou números significativos. De acordo com ele, “a demanda global por energia crescerá 45% até 2030 (destes, 87% nos países em desenvolvimento), requerendo US$26 trilhões em investimentos.

Diante desse cenário, Mancuso avalia que as práticas que visam à eficiência energética ajudariam a reduzir investimentos em infraestrutura e a aliviar gastos públicos com energia, abrindo espaço para outras prioridades sociais, além de reduzir o impacto ambiental local e globalmente.

Esses dados nos levam à seguinte pergunta: No Brasil, é possível adotar práticas energeticamente eficientes com soluções viáveis à nossa realidade? Para responder a essa questão, vamos utilizar o setor de iluminação como exemplo.

De toda a energia elétrica gasta no mundo, 19% é destinada à iluminação, mas 75% de toda a base instalada já está defasada e ineficiente. No Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), há 15 milhões de pontos de iluminação pública. Destes, cerca de 30% ainda utilizam lâmpadas a vapor de mercúrio, os quais podem ser modernizados por sistemas com lâmpadas a vapor de sódio ou mesmo sistemas com LEDs, com vantagens de menor consumo de energia e melhor qualidade de iluminação.

Ainda segundo a Aneel, há no País cerca de 50 milhões de residências. Deste universo, aproximadamente 50% da base instalada é constituída de lâmpadas incandescentes, que são ineficientes.

Portanto há nesse segmento uma grande oportunidade de troca gradual por soluções mais eficientes, como as lâmpadas fluorescentes compactas ou as lâmpadas LED, com ganhos de eficiência de até 80%.

Entre os benefícios estão o menor custo com energia elétrica para o consumidor e a liberação de energia gerada para o País, o que auxilia o processo de racionalização dos elevados investimentos necessários para a construção de usinas geradoras. Na prática, várias ações já estão sendo feitas.

O Governo Federal adotou o Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente (ReLuz), que prevê investimentos de R$2 bilhões por parte da Eletrobrás, para tornar eficientes 5 milhões de pontos de iluminação pública e instalar mais 1 milhão no País em 2010. Atingida essa meta, o Governo conseguirá reduzir a despesa dos municípios com iluminação pública em aproximadamente R$ 183 milhões por ano.

O Governo brasileiro também promove a discussão sobre o banimento gradual das lâmpadas incandescentes, para que sejam adotadas soluções residenciais mais eficientes, acompanhando o movimento mundial. A Philips apoia essas iniciativas. Participamos das discussões junto ao Governo via a associação da indústria de iluminação, investimos em pesquisa e desenvolvimento e trabalhamos para trazer as melhores soluções em iluminação para o País.

Estamos comprometidos em ajudar, com ações práticas, a melhoria da eficiência energética no Brasil. Hoje, com o programa mundial Ecovision, temos três objetivos para 2012: gerar 30% do faturamento global da Philips por meio de produtos verdes (em 2006, eram 15%), dobrar o investimento em inovações eficientes para 1 bilhão de euros e aumentar a eficiência energética das nossas operações em 25%.

É preciso ter em mente que, no Brasil, os fatores históricos e culturais nos diferenciam muito de países da Europa que sofreram com grandes períodos de escassez de fontes energéticas. Ainda contamos com recursos em abundância, porém finitos, e por isso não desenvolvemos a habilidade de investimentos a médio e longo prazos. Essa, inclusive, é nossa principal lição de casa.

Por tudo isso, podemos afirmar que iluminação energeticamente eficiente no Brasil é possível sim e acessível agora. Há um leque de soluções eficientes viáveis para os diversos segmentos que podem ser adotadas imediatamente.

O comprometimento deve partir de todos os setores da sociedade, para que uma nova atitude frente a esse cenário seja adotada e, com ela, práticas que transformarão não só nossa economia e o impacto no meio ambiente, mas a maneira como planejaremos e construiremos o futuro do nosso País.
 

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