Crescimento da energia eólica no mundo e no Brasil indica nova potência


Entre cinco e 10 anos, a força dos ventos será uma das principais fontes de energia no Brasil. Atualmente, há 48 usinas de geração de energia eólica no país. Juntas, elas geram 867.886 quilowatts (kW), o que representa 0,72% da produção total brasileira. Até aqui, há 82 empreendimentos de fonte eólica outorgados (2.743.231 kW) no país e outros 19 em construção (551.800 kW).

As usinas eólicas instaladas no país têm várias capacidades de geração e são compradas no exterior, em sua maioria. "Isso traz alguns problemas sérios de adaptação às condições de vento no Brasil", explica o professor titular do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais, Ramon Molina Valle, especialista em energia do vento. De acordo com ele, já existe um levantamento do potencial eólico brasileiro, que é maior nas regiões Norte e Nordeste. O problema é que o mapa dos ventos mudou com o aquecimento global, o que obriga a levantar novos potenciais no país. Por isso, segundo o professor, é necessário desenvolver turbinas especialmente projetadas para os ventos brasileiros, conforme a localização das torres.

"Em Minas Gerais, temos trabalhado em parceria com a Cemig num projeto de turbina inteiramente adaptado às condições do vento no estado", observa. Na visão do especialista, o Brasil entrou tarde na corrida pela produção desses equipamentos, principalmente se comparado a países como China e Índia, onde já há mais de 50 mil turbinas com capacidade de geração entre 10kW e 30 kW. São gerações pequenas com capacidade para beneficiar pequenas comunidades, principalmente nas zonas rurais brasileiras.

Há turbinas de várias capacidades sendo instaladas no país. No caso da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), maior distribuidora de energia na América Latina e com negócios em Minas, no Ceará e Rio de Janeiro, os novos equipamentos são de última geração: terão pás de fibra de vidro ou fibras de carbono com revestimento em epox e poliéster, materiais de alta resistência.

E seu funcionamento é simples: o vento incide sobre as pás e provoca um movimento de rotação das pás. Por meio de um eixo, essa rotação é transmitida até uma caixa de engrenagens, que aumenta a velocidade do giro e leva a força a um gerador elétrico. É ali que será concentrada a sede de geração de eletricidade da turbina. Depois de gerada, essa eletricidade é levada a um transformador, que, por sua vez, transmite a energia até a rede. São entre 12 e 15 rotações por minuto. Quanto maior o diâmetro das pás, mais lenta é a rotação.

"Essas turbinas podem ser ligadas à rede e também são úteis para fazendas e povoados", justifica o especialista. O novo mapa dos ventos que está sendo produzido no país vai caminhar junto com o desenvolvimento da tecnologia no Brasil, acredita Valle. A ideia é poder contar com turbinas de várias capacidades, feitas com tecnologia brasileira e adequadas às condições de ventos locais. "Quando um equipamento como esse é comprado pronto, em outro país, não está adequado às condições de vento locais, e isso faz com que a eficiência do sistema caia muito. Quando se projeta a turbina para as condições locais, há vantagens relativamente altas para a produção de energia em determinadas condições."

Além disso, segundo Ramon Valle, não se trata de desenvolver somente a turbina, mas um conjunto de equipamentos que inclui o gerador de energia. "O projeto fica mais eficiente quando se desenvolve o motor, o gerador e a turbina, um conjunto que tem vida útil de cerca de 10 anos", diz.

No Sul da Bahia e na Região Central de Minas Gerais, mais precisamente em Sete Lagoas, a 80 quilômetros de Belo Horizonte, os ventos que cortam serras localizadas nesses pontos abrigam um potencial instalado de geração de energia 3,5 vezes maior do que o da usina hidrelétrica de Belo Monte, a ser construída no Rio Xingu, na Amazônia. A previsão é que Belo Monte, que tem custo estimado em R$ 19 bilhões, tenha potência instalada de 11.233 megawatts (MW). O custo de uma torre para gerar energia eólica é de R$ 4 mil a R$ 5 mil, por megawatt instalado.

Metas na europa

A busca por energias renováveis tem crescido a cada ano e, no caso da eólica, não é diferente, segundo dados da 2ª edição do Atlas da Energia Elétrica do Brasil (2005), produzido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que mostra que nos últimos anos esse tipo de tecnologia vem ganhando espaço, principalmente na Alemanha, Estados Unidos, Dinamarca e Espanha, onde a potência adicionada anualmente supera 3.000 MW. Esse crescimento de mercado fez com que a Associação Europeia de Energia Eólica estabelecesse novas metas, indicando que, até 2020, a energia eólica poderá suprir 10% de toda a energia elétrica requerida no mundo. Na Dinamarca, 18% de toda a energia gerada vêm dos ventos e a meta é aumentar essa parcela para 50% até 2030. Na região de Schleswig-Holstein, na Alemanha, cerca de 25% do parque de energia elétrica instalado é de origem eólica. Em Navarra, na Espanha, a parcela é de 23%. Em termos de capacidade instalada, estima-se que, até 2020, a Europa tenha 100.000 MW.

Em Minas, a Cemig instalou torres de medição de 80m, 60m e 40m, em quatro pontos da Serra do Espinhaço. Com isso, o potencial exato da produção de energia eólica no estado só vai ser revelado no fim do ano que vem, quando as medições serão concluídas. Essas torres servem para calcular qual é a velocidade média dos ventos nessas alturas e para verificar qual será o comportamento dos ventos no longo prazo. São feitas de aço, com reforço contra a corrosão, mas

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Congresso na Argentina tenta aumentar uso de energia eólica no mundo também podem ser levantadas em concreto. Quando instaladas em frente ao mar, precisam de reforço maior para evitar o ataque salino. "As medições começaram a ser feitas há seis meses e serão acompanhadas por, no mínimo, um ano", explica Alexandre Heringer, gestor de projetos de energias renováveis e alternativas da Cemig. Caso a apuração seja insuficiente, pode continuar por 12 meses.

No entanto, apesar de a energia eólica ser considerada uma fonte de energia limpa, entre os principais problemas socioambientais estão os impactos sonoros e visuais, segundo mostra o atlas da Aneel. Os sonoros, devido ao ruído das pás, variam de acordo com as especificações dos equipamentos, e devem atender a normas e padrões estabelecidos pela legislação de cada país. Os impactos visuais são decorrentes do agrupamento de torres, principalmente no caso de centrais eólicas com um número considerável de turbinas, também conhecidas como fazendas eólicas. Há pesquisas que pontuam a possível interferência das turbinas na rota de aves, o que deve ser considerado nos estudos e relatórios de impacto ambiental (EIA/Rima) antes de ser instaladas.

Potenciais levantados em Minas

Torres a 50 metros do solo

Foram identificados 7.046 quilômetros quadrados de áreas promissoras, estimando-se um potencial de 10,6 gW.

Torres de 75 metros do solo

Identificados 24,7 GW, em áreas de 16,5 mil quilômetros quadrados, o que representa mais de duas vezes o potencial de Belo Monte ou 1,7 Itaipu.

Torres de 100 metros do solo

Área que totaliza 26.028 quilômetros quadrados, estimando-se um potencial de 39 GW, seis vezes a capacidade instalada atual da Cemig, 3,5 vezes a de Belo Monte e 2,5 Itaipus.

Como o potencial foi calculado:

Foram excluídas todas as áreas de preservação ambiental.

Considerou-se um aproveitamento de apenas 15% do total das áreas promissoras identificadas, devido à presença de terrenos complexos nos sítios (no mapa eólico do Brasil foram considerados 20% de aproveitamento).

Os ventos considerados foram os superiores a 7 metros por segundo.

As torres que estão sendo instaladas no Brasil têm alturas iguais ou superiores a 80 metros.

As regiões mais promissoras do estado correspondem aos municípios mais carentes, a maior parte deles localizados na Serra do Espinhaço (MG) e na área da Superintendência Nacional do Nordeste (Sudene).

A energia eólica convive com atividades agropecuárias.

Com informações da Cemig
 

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