Steven Johnson: suas ideias não são só suas

"Não espere sozinho por uma grande ideia - as boas mesmo nascem do trabalho de várias mentes", afirma o escritor e estudioso de ciência Steven Johnson seu novo livro

Anna Carolina Lementy

O escritor americano Steven Johnson tem 42 anos e passou os últimos quatro obcecado pelo nascimento das ideias. Em seu mais recente livro, Where good ideas come from – The natural history of innovation (De onde vêm as boas ideias – A história natural da inovação, sem data de lançamento no Brasil), ele vai atrás das condições que possibilitaram ideias transformadoras. Sua intenção é derrubar as expectativas em relação aos momentos de iluminação, em um indivíduo genial atina com uma grande solução. Johnson considera esse “momento eureca” um mito e tenta mostrar que por trás de grandes ideias há sempre a reciclagem de outras, as próprias e as alheias. Ele conversou com ÉPOCA sobre o tempo de gestação das ideias e os ambientes que as favorecem.

ÉPOCA - Em seu livro, você dá muitos exemplos de como pensar de uma maneira inovadora e de pessoas que conseguiram ter progresso em suas áreas devido ao que você chama de “palpite lento” e à possibilidade de fazer mais conexões entre ideias. Como isso é possível no ambiente de trabalho?

Steven Johnson – Um dos problemas das empresas é que elas dividem as pessoas em zonas separadas: as pessoas do marketing em uma área, os engenheiros em outra, os caras do financeiro em algum outro lugar. No livro, parte do meu argumento é que o pensamento realmente inovador geralmente acontece quando as ideias cruzam fronteiras, se tornam multidisciplinares. Saindo de seu domínio, pode acontecer de elas terem aplicações novas e interessantes. As empresas precisam trabalhar para criar esses ambientes que se assemelham ao espaço do cafezinho, onde conexões informais podem acontecer entre pessoas que lidam com diferentes problemas.

ÉPOCA - Quem tem negócio próprio ou chefia alguém precisa se preocupar também com a produtividade do dia a dia. Como organizar uma equipe e um ambiente de trabalho que tenham um bom equilíbrio entre a inovação (e sua inevitável dose de tentativas e erros) e a produção (que garante a sobrevivência do negócio no curto prazo)?

Johnson – É realmente um ato de equilíbrio, e eu acredito que a medida exata de cada coisa depende da natureza do trabalho. Há negócios ou divisões dentro de um negócio onde a inovação é menos crítica (na contabilidade talvez!). Mas em esferas mais inovadoras, acho que a chave é criar canais permanentes de encorajamento de novas ideias, e não aqueles retiros corporativos onde todo mundo tem que ser criativo por um dia. Esse canal pode ser como a política do dia livre praticada pelo Google ou a caixinha de sugestões onde novas ideias podem ser compartilhadas, avaliadas e conectadas pela companhia inteira. Isso exige persistência. Só assim os palpites "demorados" têm tempo para se desenvolver e se conectar.

ÉPOCA - Se as boas ideias estão dispersas, como um enxame que ocupa vários cérebros ao mesmo tempo, o que faz com que um empreendedor, um profissional ou um cientista se destaque da massa como um pioneiro, alguém considerado radicalmente inovador? Homens como Henry Ford ou Steve Jobs são exceções à regra?

Johnson – Acredito que o livro às vezes é mal compreendido nesse ponto. Não afirmo que não haja pessoas extraordinárias, mais espertas do que a maioria de nós, com inúmeros talentos e assim em diante. Jobs é claramente muito talentoso – ele é um dos meus heróis desde o colegial –, mas a questão é que esses talentos podem ser aumentados (ou reduzidos) dependendo do ambiente onde você os coloca. Jobs é um pensador extremamente inovador, mas ele também criou ambientes de trabalho na Apple e na Pixar que encorajam esse tipo de pensamento. Se tentássemos colocar sua mente em uma empresa mais convencional, suspeito que ele não se sairia tão bem.

ÉPOCA - Uma reportagem publicada na revista Newsweek em julho deste ano mostrou que existe uma “crise de criatividade” nos Estados Unidos. Você concorda? Em que medida a sociedade, os governos e escolas são responsáveis por estimular a criatividade?

Johnson – Eu não li essa reportagem, mas em termos de negócios e inovação tecnológica, a premissa soa maluca para mim. Pense em quantas inovações mudaram o mundo e saíram dos Estados Unidos recentemente: Google, YouTube, Amazon, Twitter, Facebook etc. E há milhares de empresas novatas interessantes, inclusive aqueles que se formam em setores não comerciais. Eles estão rompendo limites.

ÉPOCA - Você afirma que invenções levam tempo para ser viáveis, aceitas e compreendidas pela sociedade e cita o exemplo do YouTube, que poderia ter sido lançado em 1995, dez anos antes da data de sua fundação. Em que medida estamos prontos para absorver novidades hoje?

Johnson – Uma das principais razões pelas quais o YouTube não poderia ter sido lançado no meio dos anos 1990 é devido à sua tecnologia, que não estava pronta. Nós não tínhamos a banda larga para vídeos e os programas que tornaram relativamente fácil criar o YouTube em uma questão de meses. Mas existe um outro fator: a aceitação em relação a assistir vídeos no computador, e particularmente à ideia de programar seu próprio site com os clipes do YouTube. É uma questão cultural. Acredito que hoje estamos mais bem equipados como consumidores para abraçar esses progressos e rapidamente integrá-los às nossas vidas, precisamente porque treinamos muito nos últimos 15 anos.




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